Estou no meio das montanhas. O autocarro balança a cada dez segundos, ora para a direita, ora para a esquerda, quase me esmagando no processo. É de noite, já não vejo os apelativos cenários de há um par de horas. Já não vejo as montanhas ao fundo, cheias de neve, nem os riachos ou os putos a jogar críquete no campo. Pela janelita aberta chega-me o Vento, que se amassa gentilmente conta a minha face, trazendo-me mais uma pista, desta feita olfactiva, acerca de onde estou. É que às vezes é fácil esquecer. Contornávamos uma curva ali atrás e parecia-me nitidamente o caminho para a Serra da Freita. Foi uma sensação brutal, fantástica, e instalou-se em mim uma alegria e satisfação incomensuráveis. As memórias do que quer que tenha vivido aliada ao exotismo da criação de novas. Estou a caminho de Gilgit, no Norte do Paquistão. Tenho de parar de escrever, porque está impossível com as condições da estrada.
22h57, 6ª, 22 de Abril de 2011
algures entre Islamabad e Gilgit, Paquistão