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CONVERSAS COM INTENÇÃO
SINOPSE
O Cadillac Café é o espaço onde acontecem as conversas que tentam cair em desuso. Pegamos-lhes pela mão e dizemos que têm espaço nas nossas mesas pegajosas ou nas pausas entre os cigarros. Um conjunto de personagens desassossegadas, unidas pela esporádica desunião que sentem de quem se esforça por fazer com o que esforço pareça foleiro. O esforço de mergulhar na merda da VIDA, de aceitar os seus prazeres sem rejeitar as cabeçadas nas paredes, de pensar sem medo de parecer burro nem intelectual.
P’RA QUÊ?
Porque temos saudades de um programa que nos ofereça o prazer de uma busca interna do sentido das coisas sem ser chato. Saudades de um programa que ofereça cultura e crítica sem ser banal. Que, por vezes, torne o sofá do espectador num tapete voador e o estimule e o leve e o desafie, e que, por outras, o torne nas ruas do Cais do Sodré que se esvaziam ao raiar do dia, o desconforto a instalar-se mas o vício entranhado a não o deixar afastar-se daquelas pessoas que conversam ao longe. E porque queremos um programa que traga a fluidez de uma noite qualquer, levando o espectador a abrir uma lata de cerveja em casa, enrolar um, se for caso disso, e nos acompanhar.
COMO?
Queremos um programa sem aplausos nem gargalhadas. Abrimos com uma breve montagem do apresentador, Pedro, a preparar-se para sair. Tomar banho, enrolar um longo cigarro, fumar, vestir-se, sair de casa, apanhar o metro, chegar ao bar. Chegando inicia-se o único take em que decorrerá todo o episódio. Senta-se a uma mesa, sozinho. Pede alguma coisa. Pensa. Olha para a câmara, pela única vez, e tem um monólogo, de cinco minutos, como quem pensa alto, sobre um tema em específico. Por vezes da ordem do dia, por vezes não. Acaba quando chega o amigo, ou a amiga. É o convidado principal, o único que roda ao longo dos episódios, mas é tratado como um amigo… que se atrasou. Mais que uma entrevista, é uma conversa. Há demasiados espaços em que aprendemos sobre a VIDA das pessoas mas poucos onde aprendemos sobre a maneira como pensam, como encaram a morte ou o medo da VIDA. Por vezes a conversa começará a propósito de um livro que o convidado tinha sugerido a Pedro e ganhará depois as suas próprias asas, por outras não. Por vezes os convidados serão, provavelmente, desconhecidos do público (EXEMPLO 1, EXEMPLO 2), por outras, conhecidos. A conversa desenrola-se livremente durante uma hora, altura em que o amigo tem de ir embora. Pedro despede-se e vai ao balcão pedir uma bebida, onde encontra o arquétipo do poeta melancólico.
O Poeta Melancólico, Fábio Nobre, poeta algarvio, está sempre de passagem por Lisboa procurando algo que não encontrou, como uma conexão perdida de um amor de liceu ou um router que encontrou no OLX. Bêbedo, enceta conversa com quem o ouve e recita um poema seu de dois minutos, seguindo-se uma conversa de cinco com o apresentador. O poeta melancólico tem um olhar de quem não foi, ainda, carcomido pela melancolia, não obstante o que jorra de si nas páginas que carrega numa pastinha. Tem esperança no caminho que percorre mas está ciente que um passo em falso leva-a ao vazio do absurdo que o convida diariamente. Tem esperança de ser ouvido. E é ouvido uma vez por semana.
Quando Pedro se despede a câmara segue-o a caminho do quarto-de-banho. Noutra sala encontra, inesperadamente, um amigo, ou dois, rodando o elenco entre três homens e uma mulher. “Já venho” diz, ficando a câmara com os amigos. Quando só um, fala ao telemóvel com alguém acerca do encontro fortuito que teve com um poeta ao balcão. Quando com dois, falam ambos entre si acerca do mesmo. A ideia aqui seria explorar, num minuto de cada vez, uma narrativa paralela entre estes personagens, com possibilidade de pequenos spin-offs esporádicos. Quando Pedro volta senta-se à mesa e estes amigos falam-lhe, em quinze minutos, acerca de um filme ou uma série que viram, um livro que leram ou um álbum que ouviram.
No final aparece o Filipe. Vem indignado com qualquer coisa e entra numa diatribe apaixonada e inadvertidamente cómica. Ao longo do primeiro minuto a câmara abraça-o totalmente. Apesar de questionado por vezes acerca das suas opiniões pouco intuitivas, fala com paixão para aquilo que o filma durante cinco minutos.
Fechamos.