O que é ser livre? Vivemos com essa ideia, essa noção, tão distante como a certeza que a estabilidade é o segredo da felicidade. Desde que acordamos ao momento em que vamos dormir, vivemos presos a um relógio no pulso, a horários, tarefas, obrigações que temos de cumprir, apenas para que assim achemos que somos felizes. Raramente fazemos o que nos apetece, e achamos bem, achamos que estamos a ser responsáveis, cívicos, inteligentes. Celebramos contractos com felicidade, vivemos agarrados a eles, e celebramo-los, quando representam apenas mais uma correia que nos amarrará, que nos corta as pernas e as asas. Afogamos a nossa necessidade de liberdade com a ilusão de que a melhor maneira de a ter é não descarrilar. O que é isto? O que é viver fazendo constantemente aquilo que não queremos, sendo simpáticos para quem não gostamos, aceitando obrigações que odiamos?… Não sei, e assusta-me. Assusta-me a ideia de me poder tornar alguém assim. E assusta-me muito mais a ideia de ser já alguém assim, de sempre o ter sido, de ter perdido a minha liberdade poucos anos depois de deixar o ventre, vivendo nesta ilusão que nos estagna a reflexão, que não nos deixa almejar por mais… tudo em busca dessa estabilidade, sempre bem-vinda, sempre a eterna recordação de que somos mais um peão, e sempre o seremos…
Quero ser livre. Quero voar dentro e fora de mim, quero abrir os olhos e beber o que o mundo tem para me dar, quero seguir o meu coração e procurar por mim o que quero encontrar. Largar as correias e atrever-me a ser. Não a ser feliz, livre, mas simplesmente começar por me atrever a ser. A ser. Ter, ou ganhar a consciência do que sou, do que quero, e abrir as asas e aí… voar.