Que passeio delicioso é esta VIDA! Apetece-me saltar para um qualquer lado desconhecido. Sobreviver às custas de sorrisos, comer lamentos desnecessários. Correr em cima de carros, beijar estranhos e fugir, deitar-me na estrada e adormecer a sorrir. Lembrar-me de tudo o que tenho e fiz e embrulhá-lo num estranho embrulho de alegria. Fazer merda a torto e a direito, pensando apenas no próximo segundo, estalar o verniz da sociedade que me olha de soslaio por não me perceber. Ser o verdadeiro rebelde sem causa, o mau exemplo que ninguém deve seguir. Foda-se como me apetece ser de tudo um pouco. Desfazer-me em elogios aos transeuntes, beijá-los com uma gargalhada e dar-lhes uma palmada nas costas. Dançar todo nu o mais estúpido dos tangos, numa bebedeira sem elixir nem consequência. Partir-me a rir e com vontade, até me doer a barriga, e rebentar em lágrimas sem aparente razão. Quero sentir coisas estranhas e sem grande significado, quero sentir vulcões e euforias dentro de mim, deixar-me mal disposto e querer vomitar num exercício de não compreensão da beleza que cada segundo tem. Quero olhar para um relógio e adivinhar o próximo instante, pará-lo na impossibilidade de tal acontecimento, ficar fodido com a desilusão. Quero envelhecer, não quero envelhecer. Que se foda, quero alguma coisa. Quero sentir a vontade e a necessidade de querer coisas que não tenho sem me preocupar porquê. Viver a essência de momentos irrecuperáveis e morrer de tristeza face a constatação da sua brevidade.
Quero querer e querer o mais que possa sem me arrepender. Quero querer e não ter porque o não ter.