Textos

Quero Tentar

É engraçado, dos últimos textos que escrevi, parece que quero sempre começar com algo tipo “estou bem”. É bom sinal, parece-me. E é bem verdade. Estou bem, sinto-me bem. Sinto que estou a ir para casa, apesar de estar ainda algures no meio da Rússia. Não sei onde, para ser sincero. Tampouco sei o fuso horário em que me encontro. Mas não interessa. Estou a caminho de casa.

Senti isto primeiramente quando saí de Pequim, na manhã daquele dia que me reservaria uma ou outra surpresa. Que loucura, estava na China, e sentia-me perto de casa. Assim me sinto agora, também. Talvez ajude o facto de ir encontrar uma boa parte do meu lar dentro de poucos dias, na Letónia.

Sei que, de certa forma, me vai custar voltar. Mas estou com boas perspectivas. Vai ser um novo capítulo na minha VIDA. Quase a fazer vinte e oito anos, nunca vivi em Portugal desde que acabei o curso. Não me lembro do último Santo António que passei em Vale de Cambra, e a última vez que gozei um Verão em Portugal foi um par de dias em 2008, entre a minha mudança da Noruega para a Inglaterra. Por isso guardo algum entusiasmo dentro de mim por, por mais estranho que pareça, ir entrar numa realidade completamente nova para mim.

Não sei bem que vou fazer. Queria uma VIDA feita para mim, à minha medida, mas infelizmente isso não está à distância de um estalar dos dedos. Estivera o diabo aqui sentado à minha frente e quiçá trocaria o meu leitor de mp3 comprado na China por essa possibilidade. Será que o facto de assim ser demasiado fácil retiraria a satisfação? Não sei. Apetece-me ir com a maré e dizer que as coisas têm mais valor quando lutamos por elas.

Isto parece um desejo de um pré-adolescente, talvez, ou de um puto sonhador, mas não quero entrar nas roldanas, viver uma VIDA que até é fixe, mas dar por mim de vez em quando a encolher os ombros e a dizer, como que numa queixa aceite entre todos, “é a VIDA”.

Gostava de ter a liberdade de poder fazer aquilo que mais me faz feliz. E isso é simples. Gostava de escrever, mais nada. Criar estórias, metê-las no papel e agradar, e quem sabe inspirar, apenas o número de pessoas que permita fazer disso o meu ganha-pão. Mas não é fácil. Não sei se depende só do talento, e mesmo que só dele dependa, há que o ter.

Mas quero tentar. Quero tentar continuar a fazer as cenas que me fazem feliz. Sem obrigações nenhumas, liberdade total para ter cada dia exactamente como o quero ter. Sem encolher os ombros, sem me queixar ou brindar a dias melhores, quero ser feliz, continuar a ser feliz. Quero escrever, dedicar-me a isso, ver o que acontece. Quero fazer as viagens que me apetecer. Quero caminhar a costa portuguesa, quero conhecer o resto do mundo. Quero, quero, quero. Este verbo é importante. E mais importante que isso, ao mesmo tempo, é não o deixar tomar controlo de tudo. Porque quanto mais queremos, mais difícil é obter a satisfação.

Assim me resigno a uma vontade apenas. Não quero isto, ou aquilo. Não quero querer um monte de coisas por pré-definição. Não quero armadilhar o meu caminho impondo-me um sem número de vontades que me ajudarão tanto como uma praia num dia de sede. Quero apenas ser feliz. Acho que é um pedido justo. Quero ser feliz. Claro que deste único querer, outros advêm, mas esses são secundários. Pois posso dizer que não me quero queixar muito, que quero sentir um peito leve e uma alma sonhadora, sabendo que estes são partes fundamentais do primeiro, e verdadeiramente importante, querer. Quero ser feliz. Só isso.

20h58, 3ª, 29 de Setembro de 2012
algures entre Ulan Bator e Moscovo

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