Banda Sonora
Sabes que sim. Sabes que podes esperar por mim, e um dia voltarei. Espera, e faz qualquer coisa. Sente o que é ser, sente o desespero da distância, sente os segundos em que me ouves mentir, em que me ouves dizer que sou a tua… princesa. Sim, espera por mim, por favor, vá lá. Só quero dar mais uma volta. Gosto de te ter na carteira, ver a tua fotografia, abraçar-te sem fazer nada, saber que andas por aí. Continuas? Sim, faz isso por mim… fazes? Obrigada.
O dia hoje está quente. Penso nas vinte e três maneiras que tenho de fazer merda, de estragar o bom sentimento que tenho, de te enganar, ludibriar, de ser algo que não sou. Não sei como o fazer. Nem sei se tenho de o fazer. Talvez apenas vá viver mais um bocadinho, aqui e ali, sem necessariamente ser uma parva. Penso na necessidade de estragar presentes como estrago. Penso na necessidade de sentir a minha VIDA como fútil e inútil, na necessidade que me sintas como completamente tua. Porque jogo contigo como jogo? Dou mais um risco de coca e a minha mente esclarece um pouco. Os desejos dispersam-se e vejo melhor como foder o dia. Não sei. Não sei mesmo. Só sei que gostava de te ter aqui agora. Não esperes por mim… eu sei que acabei de pedir para esperares, mas porque é que em vez de esperares não apareces por aqui? Porque é que não entras por aquela porta verde e me dizes olá? Sei lá, era giro, e eu ficava contente. Ia gostar. Claro que ia mandar-te à merda, perguntar se me estavas a espiar ou a testar, mas ia gostar. Tu ias sentir-te triste e desiludido, e com razão. E mais uma vez, aproveitando-me, não da tua estupidez, pois não a tens, mas da tua ingenuidade, eu torceria a realidade daquela maneira tão minha, fodia tanto com a tua mente, que no final estavas a pedir-me desculpa. Sim, mas porquê? É curioso… porque é que eu ia ficar contente mas agiria como uma parva? Bem, posso sempre ligar-te e pedir para apareceres.
– Mas achas que agora sem mais nem quê vou para o *********? – ouço-te dizer, na minha imaginação. Enquanto penso nisto, fumando um cigarro no meio do nada, penso que seria giro o desafio. Agrada-me e nasce dentro de mim o objectivo. Tentar manipular-te tanto que faça com que acabes por decidir vir ter comigo ao *********. Não. Acho que esta não ia conseguir, e essa frustração ia-me deixar com um feitio de merda, tenho a certeza.
Vou para dentro de casa e bebo um copo de água. Vejo a minha pena. Vejo as folhas. Isto gosto. Sim. Gosto de escrever como um poeta há vinte e quatro milhões de anos. Estou a exagerar. Mas sim, gosto de viver assim, escrever, pensar, reflectir. Só não gosto tanto da maneira como me sinto tão bem quando desesperada. O que provoca em mim o desespero? Talvez a incerteza, a ignorância do futuro a curto prazo seja aquilo para que vivo, talvez o sentimento de desespero me aproxime um pouco mais da estúpida humanidade. E se a acho estúpida, porque me sinto bem em me sentir próxima? Isto sim, é curioso. Adoro esta confusão que sinto e vejo dentro de mim. Faz-me sentir especial, e sei que o sou. Sinto que possuo sentimentos que mais ninguém tem. Vejo-me como dona do destino terrestre, apenas porque rios de ideias correm dentro de mim.
Acabo o cigarro e pego na espingarda. Certifico-me que tem uma bala, e encosto a ponta à cabeça. Ponho o dedo no gatilho. Que bom, que maravilhoso é sentir a VIDA tão frágil, tão nada… Até faço um pouco de pressão com o indicador, e vivo este momento como a razão pela qual um dia nasci. Não sinto o desespero, mas um medo que me enternece e quase me faz chorar de alegria. Sinto como verdadeiramente incrível o facto de me sentir tão viva, apenas porque estou a um milímetro de morte. Como sempre, não pressiono o gatilho. Como sempre, nunca o planeei fazer. Como sempre, apenas gosto de sentir o que sinto quando com a morte tão perto, pois é quando sinto o meu coração bater mais forte. Mais forte do que quando estou contigo, mais forte do que em qualquer outro momento. Patológico, estúpido? Pois concerteza que sim, meu amigo, não tenho dúvida nenhuma. Mas eu gosto, e depois?…