A solidão da estrada chama de novo. Um gigante de alcatrão levanta-se, toca nas nuvens cinzentas e grita-me algo numa língua que não conheço. Eu estou cá em baixo, com a chuva a deixar rastos de arco-íris na minha face. O meu polegar está esticado mas a estrada sobe tanto quanto posso alcançar, e ninguém vai para esse lugar.
Os dias que se aproximam são os dias em que estou de volta a tudo o que tenho para me dar. Vai-se a companhia de viagem, e com ela partem as gargalhadas e experiências que partilhámos nestes dois meses e pico. Volta a aventura solitária de quem fica com saudades de falar a sua língua.
Ganhos em cada lado, naturalmente. Para quê entregar-se à fatalidade de ver algo como, ou bom, ou mau? Na sua partida há a perda de uma companhia especial, de alguém que traz consigo um Ventinho porreiro para qualquer face. Mas, volto a dizer, para quê essa fatalidade de se focar apenas naquilo que se perde. Sendo o mundo guiado por um equilíbrio que muitas vezes escolhemos ignorar, cada acção ou evento positivo tem o seu negativo, e cada negativo tem o seu positivo. Mas por vezes abrir os olhos para esta realidade custa, e as pálpebras pesam como portas cansadas.
Vou estar de volta ao estado de espírito com quem atravessei a parte do mundo que existe naqueles espaços entre a Turquia e a Índia. De volta àquelas horas de constante reflexão, de olhar para dentro sozinho, de deixar feedbacks transactos assentarem nisto a que chamo de “eu”. De volta ao receio de estar num lugar desconhecido sem ter ninguém com quem falar.
Assim me entrego, novamente, ao que o mundo tem para me dar. Sem nenhuma mão para agarrar, toda a alma é minha, e todo o amigo ao virar da esquina.
19h09, 2ª, 11 de Julho de 2011
Banguecoque, Tailândia