Banda Sonora
Quem não adora pessoas que cheiram bem? Eu sei que adoro, e sei bem como ele cheira bem. Foi a primeira coisa que reparei nele. Bebericava o meu chá na esplanada do café, e o Vento trouxe até mim o seu aroma. Levantei os olhos e vi-o chegar, rodeado dos seus, supunha, amigos. Com agrado, reparei que o aroma não me tinha enganado, e ele era como que uma personificação do que cheirava, algo belo, forte, viril.
Foi quando comecei a pensar na melhor maneira de o abordar. Não o fiz de imediato, mas lancei uns olhares que me pareceu terem sido recebidos com agrado. Foi-se embora passado pouco tempo, mas o jogo estava no ar de imediato. Acho que antes de partir ainda se voltou para me olhar mais uma vez, e comentou algo com os amigos.
“Quem não sabe é como quem não vê” – bem verdade. Digo isto pois depois desse dia em que reparei nele, comecei a encontrá-lo em alguns bares da VIDA nocturna de Évora. Um dia, em que o apanho sozinho, meto conversa com ele. Não digo que já tinha reparado nele, ele não diz que já tinha reparado em mim. Entre conversas casuais, começamos a encontrar-nos mais frequentemente, sem nada de especial se passar. Chega o dia em que os seus amigos decidem ir embora mais cedo, ele fica comigo. Ocasião perfeita. Após alguns shots bebidos e cervejas partilhadas, sugiro um bar que frequentava com frequência. Ele acede. “Primeiro estranha-se, depois entranha-se” – bem verdade, e não apenas para aquilo que Pessoa sugeriu. Bem verdade, pois rapidamente senti que o tinha na mão. Claro que joguei as cartas na perfeição, um passo de cada vez, ele não era alguém fácil, sentia-se. Nessa noite, já com o álcool a toldar um pouco as nossas decisões, faço a sugestão de irmos até minha casa.
O que se passou foi algo maravilhoso. Ambos sabíamos para o que íamos, sendo que o flirt tinha começado logo no bar. Fizemos amor de muitas maneiras ao longo de um par de horas, até que adormecemos, cada um para o seu lado, estafados, satisfeitos.
Quando acordo não o vejo. Não estranho, na medida em que pouco passava das duas da tarde. O que estranho é a sua reacção quando o vejo nas vezes seguintes. Completamente seco, fazendo comentários que não percebia com os seus amigos de sempre. Fico triste, mas tento ignorar.
É quando o vejo, certa vez, e passado duas semanas do nosso rendez-vous, numa noite em que já se encontrava um pouco alcoolizado e em que sinto os seus sorrisos estúpidos sucedidos de comentários com os seus amigos, que vou ter com ele e o chamo à parte.
– Podes-me explicar o que se passa? Que não me queiras ver mais, tudo bem! Se para ti foi só uma foda, nada mais, tudo bem! Mas porque é que estás com essas merdas, com esses comentários e risinhos estúpidos?
– Ouve lá!… Foda? – vejo que mente – Não sei, nem quero saber, do que estás a falar, mas vê lá se percebes que não quero nada contigo! Desaparece, paneleiro do caralho!!